Início de envolvimento é tão bom! Os primeiros olhares, os primeiros toques, o frio na barriga, o medo de desagradar. Enfim, toda novidade contida.
Com o passar dos anos é certo que essas coisas sejam perdidas, mas ganha-se muito também como intimidade e cumplicidade.
E o que é que mantém aceso o amor? Sabemos que eterno é aquilo que se renova todos os dias.
Outro dia, durante a aula de Estudos línguisticos e literários na faculdade, nos foi dado um poema da grande Adélia Prado e que trouxe várias respostas para mim, além de me envolver com a intensidade do amor da noiva que resgata suas primeiras sensações com seu amado.
Quando eu me projeto neste poema, acalmo o meu coração que tanto espera pelo noivo e guarda a sabedoria existente na história desta noiva que não é submissa a seu homem, mas que se rende por inteira ao amor.
Casamento
Adélia Prado
Há mulheres que dizem:Meu marido, se quiser pescar, pesque,mas que limpe os peixes.Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,de vez em quando os cotovelos se esbarram,ele fala coisas como "este foi difícil""prateou no ar dando rabanadas"e faz o gesto com a mão.O silêncio de quando nos vimos a primeira vezatravessa a cozinha como um rio profundo.Por fim, os peixes na travessa,vamos dormir.Coisas prateadas espocam:somos noivo e noiva.
Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.
Saiba mais sobre Adélia Prado e sua obra em "Biografias".
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