terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A minha saudade

Na minha cabeça, hoje é o dia do nosso encontro. Domingo, dia do descanso, para mim é tédio. A menos que sua palavra, que é o seu jeito de estar presente, venha me sacudir por dentro como sempre.

No meu som, a trilha repetida, porém incansável, que é a junção de tudo o que escolhi, cuidadosamente, para aquele nosso dia que não existiu. Baladas de um desejo que não se abalou. Canções que falariam sobre nós dois ali, na consumação do fato, no ápice.  Mas foi apenas uma ideia que você cogitou - inúmeras vezes, me recordo. Hoje, percebo que tais músicas falam só sobre mim. São elas que embalam a minha saudade. Sim, eu sinto saudade de você. Muita. Mas no momento em que surgiu aquela sua pergunta, só coube a mim ser contida. Qualquer desvio poderia significar a sua falta para todo o sempre. Isso seria muita covardia, não acha? Saudade é a minha palavra-chave que abrirá e fechará as portas e é, também, a definição da sua ausência.

"(...) e com saudade de mim, está?" Se não soasse tão agressivo, eu poderia dizer que a sua pergunta foi idiota, não fosse ela apenas uma frase feita, típica de quem não tem muito o que dizer, mas que não queira, talvez, encerrar a conversa, a nossa conversa, o nosso encontro, o que eu anseio como o fim e o começo das minhas semanas. A pergunta que não quer calar e a resposta que precisa ser silêncio, insisto.

O que é que o seu coração sabe sobre saudade? A sua interrogação rasa desconhecia a profundidade que tinha na minha resposta que se calou. Que a gente nunca diga "estou com saudade", só da boca pra fora. Eu sempre digo do coração pra dentro, na alma, sabe como?

Tudo isso eu te escrevi enquanto te esperava. A minha saudade se aguçou por ser noite de domingo e por eu ouvir Even Flow, que você disse ser "a melhor música de todos os tempos e mais uns anos pra frente." Essa canção descontrolada que me lembra alguém que me faz perder o controle.

Na sua demora, uma voz interna, maldosa, dizia que hoje o seu sono não foi condenado ao sofá, e que o calor que resolveu dar trégua possibilita que a sua noite seja envolvida apenas com o calor de abraços e dos corpos em conchas.

Eu só tenho a falta que sinto e dois travesseiros  que me recebem como um colo. Mas eis que você, no melhor estilo  antes tarde do que nunca, interrompe minha escrita. A minha madrugada é invadida e preenchida pelo seu elogio que me devolve o que os outros me roubam, o seu 'amor' tendo a paciência como prova, seu desafio lançado e a minha atitude ridícula de provar o meu 'amor'; a minha intimidade em troca da sua permanência e a imagem do seu rosto transfigurado. E sim, você estava mais bonito como eu nunca havia visto. Faltou apenas a nossa sincronia, não é? Nós dois transfigurados aos mesmo tempo pela mesma razão, razão esta que nos mantém unidos. 

O tempo, que sempre conspira contra mim, passa rápido sem que eu perceba. Chega a soar controvérsia, já que conto os dias pra te ver e horas que você fica. Vejo, então, que a luz da sua janela está apagada, a certeza de sua partida. Vencida a saudade, é necessário vencer a insônia, minha outra adversária. Durmo com seu rosto no pensamento e tenho como consequência os sonhos mais desordenados, numa manhã de segunda-feira. Eu, você, sua verdade, o nosso segredo quase revelado (a canção proibida),  meu desatino todo expresso em uma carta para "aquela que possui as minhas verdades absolutas" como outrora. Deus! Como eu queria ter em mãos, agora, esta carta do sonho. Nela, constava a resposta de toda essa minha verdade em relação a você, no meu subconsciente, em forma de desabafo. Acordo, desorientada, esquecendo-me de tudo o que havia escrito na correspondência. A única coisa da qual me lembro é que sou uma louca, mas isso você sem saber, dia após dia, não me deixa esquecer. 

Há 24 horas que você veio. Atravessei tais horas escrevendo sobre a saudade que sinto e que se perpetua no movimento entre a sua partida e o seu retorno. Assim são todas as minhas semanas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário