terça-feira, 4 de março de 2014

Os achados em que eu me perdia


Outro dia, procurando o número de um telefone em uma agenda velha, achei umas confissões que fiz em uns papeis, na madrugada de 12 de julho de 2013. Em meio aos fogos de artifício da torcida adversária - que não deixavam ninguém dormir -  eu ouvia um CD da Legião Urbana, chorava de saudade e também de raiva. O que escrevi se encontra incompleto, mas acho que vale o registro aqui porque a minha maior vontade, expressa naquele dia, foi atendida. Usarei alguns termos para definir algumas pessoas e não citar nomes. Sei que cometi algumas injustiças com alguns comentários, mas são parte de pensamentos soltos que me ocorreram naquela noite:

Estou ouvindo Uma outra estação, da Legião Urbana, de férias, sem nem um real no bolso e o computador estragado. Beijei o Ladrão essa semana, mas ainda sinto falta do Meu pequeno dente-de-leão. Não posso tê-lo e não falarei mais com ele. Estou mais tranquila quanto a isso, ainda mais sabendo as razões de tal impossibilidade.

Ontem o Atlético ganhou o jogo da semi-final da Libertadores e 'ele' deve estar puto. Eu estou também. Queria estar com raiva junto dele, mas nem tanto. Já foi mais forte. Ainda assim eu chorei porque gostaria de ter alguém para estar com raiva junto, xingar e secar. Com ele era desse jeito. Nem tão intenso, mas nas poucas oportunidades que tínhamos de falar sobre, comentávamos. Lembro-me de ele me dizer que estava "num medo danado deles ganharem essa Libertadores". Estamos enfurecidos juntos, mas à distância.

Qual a razão de eu estar falando tanto dele assim? Aquela ansiedade que eu tinha já está mais fraca. Eu sei que não posso ter nenhum anseio sobre ele também. Ele que se sentiu esperto demais com seu poder de conquista sem pensar que poderia ser descoberto. Enfim, Meu pequeno dente-de-leão, você não deve continuar em mim. Vá embora.

Na página seguinte da agenda há um outro registro que eu não me lembro se foi escrito na mesma noite. Pela forma de tratamento direcionada ao meu destinatário, posso concluir que era um reflexo bem forte da minha leitura de Flores Azuis, de Carola Saavedra, um romance epistolar que parece ter sido vivido por mim:

Meu querido,
sei exatamente onde te encontrar, mas não tenho o direito de ir até você. Nós não podemos. E é por isso que eu te escrevo, pois, nem que seja por acidente, um dia você leia a minha palavra. Você já leu meu corpo, os meus sinais e o meu coração. Eu sei que você leu. Somente quem faz a leitura da parte mais preciosa que possuo é capaz de fazer um recuo tão acentuado como o seu.

Eu quero que você me leia. Eu exijo isso da vida. Não é justo que alguém me dê tantas linhas, não as veja e não saiba o que contém em cada verso. Você é a razão de cada um deles. Eu me recordo de ter te passado um excerto, aquele que descrevia a transfiguração do seu rosto. Sabe essa transfiguração que eu nunca vi igual e que nunca mais verei porque o seu rosto não deve ser visto por mim? Não deve ser visto por ninguém, você me entende?




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